from the AML . Piquenique por ocasião da Romaria do Senhor da Serra, em Belas por Nunes, Garcia . PT/AMLSB/NUN/000015
Nos finais do século XIX foram quase extintos os terrenos Baldios que ocupavam grande parte da superfície do País. Parcelas de terreno em coexistência no mosaico produtivo, os terrenos baldios de ocupação variável, serviam de complemento à vida no campo, desempenhando um papel-chave na sedimentação de uma estrutura social baseada na partilha de recursos.
A partir de 1938, parte substancial dos Baldios foi florestada, transformando de forma significativa o território rural português. O argumento do terreno produtivo e monoespecífico suplantou o mosaico de ocupação múltipla, e fez desaparecer parte dos territórios baldios, perturbando toda uma economia destes dependente. A aceção de baldio como terreno inculto, ou na designação urbanística, expectante, sem aparente relevância económica ou social, é hoje uma herança deste episódio.
Esta referência ilustra a dificuldade de convívio com espaços que escapam ao controlo dos mecanismos de gestão do território e à incapacidade de valorizar espaços aparentemente em abandono.
Espaços redundantes, não produtivos, que ocorrem nos intervalos das continuidades urbanas, entre as infraestruturas, nos espaços da falência económica dos processos de especulação imobiliária ou dos fenómenos de suburbanização e que são em si mesmo o espelho desse crescimento urbano e dos processos económicos que lhe serviram de motor e povoam o imaginário de quem os habita, através das suas possibilidades infinitas de apropriação.
A paisagem como artefato resultante de adições e obliterações, desde sempre conviveu com espaços com funções e programas específicos, pertencentes à racionalidade da cidade contemporânea, e outros lugares, em abandono, pertencentes a um passado que a precedeu.
Estes são lugares de pausa, de intervalo, que perderam o seu significado original e que poderão ser entendidos, romanticamente, como espaços de liberdade, sugerindo possibilidades de apropriação mais temporárias ou permanentes. Um campo de futebol, uma festa de santos populares, uma feira, o caminho para a escola, uma charca temporária. A história da paisagem e mais genericamente do habitar, é o resultado permanente deste processo de destruição, construção e de reinterpretação de novas possibilidades desse mesmo habitar.